quarta-feira, 13 de abril de 2011

A surpresa!

Depois de 5 dias após a perda do meu segundo anjinho, voltei a trabalhar normalmente.
Voltar depois de uma situação dessa não é nada fácil. As pessoas só conseguem te olhar com pena, não param de perguntar como você está, o que houve, como foi acontecer isso.. etc, etc e etc. Quando você passa por momentos assim, tudo o que você mais quer é esquecer... ainda mais no meu caso, em que sofri bastante no Hospital e as lembranças dessa perda doíam ainda mais fisicamente do que psicológicamente, já que tinha me preparado desde o príncipio para isso, diferente da 1ª gestação onde eu nunca imaginava passar pela perda. Infelizmente, na ânsia de te dar apoio, as pessoas ao seu redor acabam fazendo você se machucar ainda mais, por estar sempre relembrando aquele momento triste.
É claro que a única coisa boa disso tudo você não quer e não vai esquecer pelo resto da vida... que é a alegria de ter gerado um grande amor, embora ele tenha ficado tão pouco tempo ao seu lado.
Bom, peguei o resultado dos exames realizados no embrião e levei ao meu GO. Tudo dentro da normalidade... não foi encontrado nada que pudesse justificar a má formação.
Voltei a tomar o AC e continuei minha vidinha... quando foi em Outubro, minha menstruação atrasou. Ela nunca foi muito regulada, mas já estava há 9 dias atrasada. Decidi fazer um beta só por desencargo de conciência.
Não tive coragem de ligar ou buscar o resultado... pedi para meu marido fazer isso. Estava na minha sala, trabalhando junto com uma colega quando ele me ligou... disse "Amor, deu Positivo!". Gente, eu só sabia chorar... não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Fiquei desesperada, sem chão... sem saber o que fazer. Imaginei minha mãe e meus avós me "chingando", me chamando de irresponsável, etc... fiquei relembrando do que passei no hospital... só conseguia pensar no fato de estar grávida, apenas 2 meses depois da 2ª curetagem. Era exatamente a minha 3ª gestação em 1 ano.
Eu e meu marido, decidimos que não iríamos contar para ninguém. Somente no meu trabalho tive que falar devido as consultas e etc, mas para as nossas famílias, não contamos à ninguém. Comecei o novo pré
natal e na minha primeira consulta meu GO tentou me tranquilizar dizendo o seguinte: "Bom Michelly, você tem um histórico de 2 abortos retidos recente. Não foi identificado nenhuma anomalia que justificasse isso... porque agora, mesmo que nestas condições, não pode dar certo? Fique tranquila, o que for para ser, será."
Queria eu pensar desta forma, mas sinceramente não conseguia. Minha preocupação naquele momento, era muito maior que a minha alegria, mas sabia que precisava fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para não vivenciar aquele pesadelo de novo.
Nesta mesma época, comecei a frequentar o Grupo de Oração da Canção Nova aqui de Curitiba. Canção Nova para quem não conhece, é uma comunidade da Renovação Carismática Católica cujo a "sede" fica em Cachoeira Paulista/SP e o objetivo central é a Evangelização.
Como disse nos primeiros posts, sempre tive muita fé em Deus e sabia que se aquilo estava acontecendo é porque tinha um propósito. Em um dos encontros do Grupo de Oração, no momento de reflexão, fechei meus olhos e comecei a chorar... de repente, veio uma voz na minha cabeça, se assim posso descrever, e disse: "Calma filha... seu sonho se realizará! e o nome dele será MIGUEL!". Na mesma hora, abri meus olhos e "me vi" com um barrigão... gente, foi uma sensação indescritível... pensei "devo estar ficando louca né?", mas nesse mesmo instante, olhei no altar e o que vejo? Uma imagem de SÃO MIGUEL ARCANJO! Nesse instante percebi que realmente o Senhor havia falado comigo. Meu coração na mema hora se tranquilizou. Conversei com o meu marido e contei à ele o que tinha acontecido... para a minha surpresa, ele disse que aquela imagem de São Miguel estava sempre ali e eu nunca tinha visto. Fiquei mais tranquila para continuar na luta pelo meu milagrinho...
Nesta mesma semana, comecei a sentir muitas dores e cólicas. Fui ao PS do Hospital em que havia feito a 2ª curetagem e lá fiquei no soro aguardando para fazer uma US. Ao fazer a ultra, a primeira desta gestação, estava lá o saquinho gestacional, a visícula vitelínia e o embriãozinho. Ainda não havia batimentos cardíacos, mas o médico de plantão, um anjo que me atendeu, o Dr. André, disse que era para eu ficar tranquila, pois a gestação ainda estava muito no início. Me entregou a us, disse que qualquer coisa era para eu ir até o consultório dele ou procurá-lo ali no hospital mesmo... me desejou boa sorte e fui para casa.
Nesta mesma época, a dona da casa onde eu morava pediu o imóvel... eu e meu marido conversamos com um amigo nosso que tinha uma casa vazia, e alugamos por 2 meses, pois meus sogros estavam programando se mudar da cidade e íamos ficar na casa deles.
A casa em que ficamos deste nosso amigo, era um sobrado, então eu tomava todos os cuidados para não fazer esforço ou ficar subindo e descendo muitas vezes.
No dia do meu aniversário, 09/11, quando estava completando exatamente 1 ano que tinha perdido o meu primeiro anjinho, fizemos um almoço na casa da minha mãe e chamamos toda a família. Á tarde, estávamos sentadas na cozinha, eu, minha mãe e minha sogra e entramos, não lembro por qual motivo, no assunto gravidez x perda. Quando minha sogra fala: "É preciso cuidar... esperar um pouco entre uma getação mal sucedida e outra para não correr riscos. Perde-se muito sangue em situações assim... e isso é muito perigoso." Gente, na hora estremeci... fiquei pálida e não consegui conversar mais. Não podia falar nada, pois ninguém sabia que eu estava grávida né? Comecei a ficar com aquilo na cabeça, e quem disse que conseguia tirar?
Eu, meu marido e meus avós, estávamos programando uma viajem para Navegantes/SC, no feriado. Iríamos visitar um tio que mora lá. Sairíamos daqui de Curitiba no dia 14/11 e voltaríamos no dia 17/11, pois eu estava de folga nestes dias. No dia 14/11, meu sobrinho lindo nasceu... foi uma alegria sem fim! Antes de viajarmos, passei no Hospital para conhecer o mais novo membro da família e o grande amor da titia. Fiquei com o coração apertado em deixá-lo, mesmo sem poder ajudar em nada né, pois ela só sairia do hospital no domingo. Aproveitei bastante o feriadão, curtindo bastante o mar, minha família... descansando bastante.
Até então com agestação estava tudo ocorrendo bem. Nada de sustos, sangramentos e as dores haviam passado. Eu e meu marido estávamos com bastante esperanças, embora a sombra do aborto retido ainda não tinha sido afastada, já que não tínhamos conseguido ouvir o coraçãozinho do nosso amor ainda.
No dia 20/11, estava no trabalho tranquila... fui almoçar as 14:30hrs, tudo normal. Nesse dia, resolvi almoçar no refeitório da empresa (normalmente eu almoçava no Mercado Municipal que ficava na frente do meu trabalho). Estavam lá no refeitório também, as senhoras que trabalhavam no serviços gerais da empresa. Não me lembro qual foi o assunto que nós começamos a conversar, e nesse instante eu contei à elas (elas não sabiam ainda) que eu estava grávida de novo. Na mesma hora que contei, senti meu coração apertado... uma angustia muito grande e algo me dizendo que eu não deveria ter falado nada. Elas sairam do refeitório e eu terminei de almoçar. Nisso, uma colega que já sabia da minha gravidez, foi almoçar e eu contei à ela o que havia acontecido. Ela disse para eu ficar tranquila, que não haveria de ser nada... continuamos conversando sobre outros assuntos até que deu o horário de eu voltar a trabalhar. Levantei e quando estava saindo do refeitório, senti uma umidade estranha... fui ao banheiro "conferir" e não notei nada de diferente. Ao chegar na minha sala, senti novamente aquela sensação de umidade e retornei ao banheiro. Chegando lá, para o meu desespero, estava com um pequeno sangramento... voltei para a minha sala trêmula. Minha colega perguntou o que havia acontecido que eu estava branca... comecei a chorar e contei à ela o que tinha acontecido.
Na mesma hora, ela subiu as escadas correndo e foi chamar a minha supervisora... eu só sabia chorar. Quando minha supervisora chegou, me abraçou e disse que ia ligar para o meu marido. Na mesma hora ele saiu de casa e foi correndo me buscar... fez o trajeto, que durava em torno de 1 hora, em meia hora. Nisso, elas estavam tentando me acalmar.
Chegamos no hospítal às 16:30hrs e o médico já me encaminhou para a sala de observação. Colocaram o soro e fiquei aguardando para fazer uma US. Por volta de umas 18:30hrs, fui ao banheiro e o sangramento tinha aumentado um pouquinho... nesta hora fiquei ainda mais trêmula. A espera também estava acabando comigo... até que uma enfermeira veio e disse que o médico que faria a us só chegaria às 20:00hrs... fiquei mais agoniada ainda.
Quando foi 21:30hrs (isso que é pontualidade né?), vieram me buscar. Cheguei na sala de ultrasonografia e la o médico tranquilizou meu coração, em partes. Disse que meu amor estava ali, que tinha sido apenas um susto, mass... nada de batimentos cardíacos, por enquanto. Recebi alta e o médico mandou eu ficar de repouso absoluto...
No dia 21/11, acordamos com uma ligação da minha sogra. Ela perguntou ao meu marido se eu tinha ido trabalhar e ele disse que não, mas não contou o motivo. Ela entao pediu para falar comigo... quando peguei o telefone, ela começou a me contar: "Mi... tive um sonho com você essa noite. Sonhei que você estava no ventre de Nossa Senhora das Graças... (nesse momento eu já estava aos prantos). Nossa Senhora estava sentada em uma cadeira de balanço, toda sorridente, alisando a barriga e dentro dela estava você... e dentro de você, havia um bebê!... então, acordei com a sensação de que precisava muito te contar e tranquilizar seu coração... pede para o Moises colocar a mão na sua barriga e rezem juntos, pois eu acho que vocês está grávida!"... Na mesma hora, ainda aos prantos, falei pra ela que eu realmente estava grávida e que no dia anterior tinha tido um sangramento e estava em repouso. Ela então me disse que isso poderia ser um sinal de que tudo ficaria bem, ou que se não fosse aquele o momento, Nossa Senhora estaria ao meu lado.
Aquele dia o sangramento estava bem fraquinho... fui para a casa da minha mãe e fiquei por lá. Ela ainda não sabia de nada... tomei coragem e contei à ela. Disse tudo o que estava acontecendo... chorei bastante e pedi que ela não me desse nenhum tipo de "sermão"... não naquele momento. Ela chorou comigo e disse que era para eu ficar tranquila, pois Deus estava sempre ao meu lado.
No sábado, dia 22/11, acordei às 05:00hrs com cólicas. O sangramento havia aumentado, estava como quando vem a menstruação. Deitei novamente e não conseguia de jeito algum pegar no sono.
Levantei, tomei café e fiquei quietinha no sofá assistindo tv. Às 13:30hrs, resolvemos ir novamente ao hospital, pois o sangramento ainda continuava. Chegando lá a mesma coisa, me internaram, me colocaram no soro e fiquei esperando para fazer uma nova US.
Às 18:30hrs, vieram me buscar para fazer a ultra. O médico começou a fazer e mais uma vez me disse que estava tudo bem, que o embrião e o saco gestacional continuavam lá, mas novamente sem identificar os batimentos cardíacos. Saí da sala e fiquei esperando o enfermeiro me buscar para levar até o ps e o médico me dar alta. Foi quando, para minha surpresa, 5 minutos depois que sai da US, o mesmo médico que a fez, me chamou na sala e disse que tinha se equivocado e que eu estava novamente com um aborto retido e meu organismo já estava começando a "expelir" o embrião e por isso o sangramento. 
Na hora fiquei atônita! Como podia ele "mudar de idéia" em 5 minutos???
Fiquei totalmente sem chão... fui levada para o médico com o diagnóstico do aborto retido. O médico de plantão disse que iriam me internar para fazer a curetagem. Foi aí que eu disse que NÃO! Isso mesmo, me recusei à ser internada para a curetagem. O médico (e o meu marido também) sem entender a minha atitude, tentu me explicar novamente que o meu filho amado, o meu anjinho não estava mais vivo e era questão de pouco tempo para a gravidez ser interrompida de vez. Eu perguntei à ele como eu poderia confiar em um diagnóstico médico que mudou drasticamente em 5 minutos? (embora eu soubesse e estivesse totalmente ciente de que já estava com mais de 8 semanas e até então nenhuma ecografia havia detectado os batimentos). Assinei um termo de responsabilidade informando que eu quis sair do hospital, mesmo sem ter recebido alta. Mesmo assim, o médico pediu que se o sangramento aumentasse, que eu fosse direto para o hospital.
No domingo, 23/11, acordei novamente às 05:00hrs, mas desta vez toda ensanguentada. Era muito sangue!!! Meu pijama, o lençol... tudo estava manchado de sangue. Tentei manter a calma. Meu marido estava trabalhando... levantei fui ao banheiro e não parava de sangrar. Peguei o telefone na sala e fui ligar para o meu marido. Nesta hora minha mãe acordou e eu contei à ela que mais uma vez meu sonho havia acabado. No local onde meu marido trabalhava, não estavam conseguindo localizá-lo e então disseram que iriam atrás dele e iriam pedir para ele me retornar. Meu marido uns 10 minutos depois me ligou e eu contei à ele o que havia acontecido. Em 30 minutos ele estava no portão. Bebi um gole de água benta pois, não sei se por causa do meu nervosismo, estava com a garganta totalmente seca... seguimos para o hospital.
Chegando lá, já me colocaram em uma cadeira de rodas e me levaram até o consultório. Uma enfermeira foi me preparando, enquanto o médico não vinha, pois o mesmo estava no CC. Coloquei a camisola e deitei na cama... a enfermeira enrolou uma outra camisola e colocou no meio da minha perna, pois ainda estava sangrando muito. O médico chegou e fez o toque. Eu já estava com dilatação... como já tinha o diagnóstico (US) de aborto em mãos, ele disse que era só me internar, que não seria necessário fazer uma nova ultra.
Me levaram para a sala de pré-parto, enquanto isso, meu marido foi dar entrada na internação.
Como eu havia feito uma curetagem muito recente, o plano de saúde começou a enrolar para liberar a internação e nesse meio tempo, eu não podia ser medicada e muito menos passar pela curetagem. Umas 09:00hrs mais ou menos, a enfermeira veio trocar a camisola que haviam colocado para "estancar" o sangue... estava enxarcada. Logo após, vieram me dizer que o plano liberou a internação e colocaram o soro. O anestesista foi chamado e estavam aguardando somente ele chegar para me levar para o centro cirúrgico  fazer o procedimento. Eram mais ou menos 11:30hrs quando o anestesista chegou...
Ás 12:30hrs do dia 23/11/08, eu acordei novamente com um vazio dentro de mim. Meu 3º anjinho havia ido embora... por incrível que pareça, agradeci à Deus por ter ocorrido tudo bem.
Me levaram para o quarto e às 13:30 já estava de alta. Demoraram um pouco para localizar meu marido, pis o celular dele estava fora de área. Então, ligaram para a minha mãe e às 14:30hrs ela e meu marido chegaram para me buscar.
Saí do hospital e segui para a casa da minha sogra, onde fiquei aproximadamente uns 5 dias.
Não queria desistir, mas ao mesmo tempo, me sentia sem forças para passar por uma nova gestação. Pedi então à Deus que Ele não permitisse que eu engravidasse novamente, se fosse para acontecer aquilo de novo. Que se não fosse da vontade d'Ele que eu fosse Mãe, eu não iria me enstristecer, mas que passar novamente pela alegria e aflição de uma nova gravidez e no final me ver novamente internada, sabendo que não sairia do hospital com meu filho nos braços, definitivamente seria insuportável. A dor física é controlável, mas a psicológica...
Segui em frente...
Fui demitida do meu serviço(já imaginava) 15 dias após a perda. Naquele final de ano, resolvi ficar em casa... colocar a cabeça e o corpo em ordem...
No início do ano, 2009, meu médico resolveu fazer uma investigação mais profunda do meu caso, pois novamente os exames anatomopatológicos deram normais. Fui encaminhada para o maior especialista em Genética de Curitiba... realizei vários exames, meu marido também foi examinado e para a nossa surpresa... os resultados foram novamente normais. Nada justificava 3 abortos retidos... não havia nenhuma causa aparente para todo aquele sofrimento. Decidi então que não faria mais nada... me entreguei completamente nas mãos de Deus!

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